terça-feira, abril 19, 2011

Leituras... Livros...

ADORO ler,
ADORO livros,
Gosto de romances, gosto de histórias reais, alguns policiais, entre outros...

Mas ou é por estar numa fase weird ou não gosto quando me revejo em cada frase do livro que estou a ler...

Fico baralhada, fico confusa e por vezes triste... e foi o que me aconteceu hoje/agora... Iniciei um livro (ao tempo que não lia), um romance da minha querida Margarida Rebelo Pinto, tanto que gosto dos seus livros, estava a rever-me como disse em cada frase escrita e ao fim de umas quantas páginas sinto a necessidade de vir aqui escrever e transcrever um capitulo de um dos seus ultimos livros, se não o último...

"TEMPERE E RESERVE

Corte a carne em fatias finas, tempere e reserve. Lave a salada, tempere e reserve. Ponha o pato a marinar em vinho tinto e reserve. Estenda a massa folhada sobre uma superficie polvilhada de farinha, corte em quatro porções e reserve. Faça um refogado de alho com cebola, junte tomate picado e reserve.

É tão fácil reservar alguém na nossa vida. Basta dizer talvez, ainda não, agora não dá, mas quem sabe um dia, porque é que nunca nos envolvemos, quem me dera ter um namorado como tu, e se déssemos um tempo, e se daqui a dois meses fôssemos aos saldos a Nova Iorque?
E o outro fica a olhar para nós como peixe apanhado na linha, pendurado fora da água, mas não ainda caído e morto no chão do barco, e no ar desenha-se um enorme ponto de interrogação que se transforma numa nuvem e fica a pairar no céu até se transformar em chuva.
Eu sinto-me a carne, o peixe, a massa folhada, a salada, o pato e o refogado. Estou à espera porque não me é permitido escolher, desejar, querer, agarrar, mexer-me do meu lugar. As regras são simples; o amor é como a sombra. Se correres atrás dela, nunca a conseguirás apanhar, mas se lhe virares as costas ela seguir-te-á para sempre.
Quando se ama, qualquer movimento pode ser em falso e significar morte imediata. Um suspiro, uma palavra fora de contexto, um gesto desadequado, um desabafo, até um silêncio podem mudar a rotação da Terra e inverter o sentido dos ponteiros do relógio. Por isso rio-me muito da minha tristeza, finjo que não é nada comigo e espero que um dia possa sair da reserva e a minha vida mude.
Mas eu não sei esperar, não sei aceitar, não sei ceder. Só sei sonhar, desejar e querer. Sonho muito, quero, desejo com muita intensidade e quero sempre mais, por isso respiro fundo, conto até dez, e depois outra vez até dez, e, quando dou por mim, já vou em mais de cem e nada mudou.
Não tenho respostas para a espera. Só sei que o ditado não pode estar certo, porque quem espera quase nunca alcança e se é devagar que se vai ao longe, os outros também lá chegam, mas com certeza mais depressa.
Não tenho respostas para a vida, que me parece uma sequência sem lógica, um jogo em que é preciso encaixar peças de puzzles diferentes, uma névoa de indecisões e incertezas em que a vontade nunca vence, os sonhos se desfazem e o tempo vai roubando os dias.
Tenho de ficar quieta, dizem-me, deixar a campainha tocar, fazer exercícios de abstracção, ir ao cinema como quem cura uma gripe, respirar fundo e aproveitar o sol de Lisboa. Tenho de aprender a ser feliz, dizem-me, como se a felicidade viesse em livros de receitas: estenda o seu coração numa superfície pulvilhada de farinha, corte em quatro partes e reserve. Leve o seu desejo ao lume em banho-maria e reserve. Meta os seus sonhos no forno a 180º e reserve. Mergulhe a sua vontade em vinho tinto, deixe a marinar durante três dias e reserve.
Mas falta-me a inspiração dos teus ombros sobre o meu corpo, a segurança do cheiro da tua pele, a tua cara a dormir na almofada ao meu lado, tranquilo e belo como um querubim. Faltam-me o teu tempo e a tua respiração. Falta-me a tua mão na minha, quando ando na rua. E o teu olhar a envolver-me como um manto e o teu coração a bater ao mesmo tempo que o meu.
Fazes-me falta, meu amor. E a falta que me fazes não se resgata nas palavras, nas esperas, na conjugação estóica do verbo aceitar, nem na assunção lógica da temporalidade. Mas mesmo assim, escrevo porque ninguém ouve, e quem sabe, uma simples folha contenha a chave da liberdae. Porque só é livre quem abraça o mundo sem reservas, mesmo que fique pendurado por um fio entre a vida e a morte."


A Grande Margarida Rebelo Pinto em "A minha casa é o teu Coração"

Sem mais palavras a acrescentar... :x Speechless!



Go With The Flow!
Step By Step!

Sem comentários: